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Pesquisa avalia o impacto do isolamento na saúde mental e realidade econômica de usuários de drogas

05/05/2021 10:23

Escola Livre de Redução de Danos

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Pesquisa avalia o impacto do isolamento na saúde mental e realidade econômica de usuários de drogas

Levantamento da Escola Livre de Redução de Danos entrevistou 1.336 pessoas de todo o país; confira o detalhamento dos resultados

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A saúde mental e o humor das pessoas que fazem uso de álcool, tabaco e outras drogas, como maconha, cocaína, psicodélicas e antidepressivas foram colocados à prova durante o longo islolamento social causado pela pandemia da Covid-19. Para entender a frequência do consumo dessas substâncias e seus efeitos durante o período mais crítico da primeira onda da pandemia do Covid-19 no Brasil, a Escola Livre de Redução de Danos realizou o Levantamento Nacional sobre o Uso de Substâncias durante Isolamento Social contra o Covid-19. O estudo será lançado durante live nessa quarta-feira (5), em transmissão nas redes da organização. 

 

O levantamento envolveu a realização e análise de uma pesquisa com 1.336 pessoas e identificou que a renda da(o)s participantes caiu de forma estatisticamente significativa, com efeitos mais fortes e evidentes sobre as pessoas negras e pardas, jovens e de identidade de gênero não cis. O levantamento da Escola Livre de RD será publicado no mês de maio, no mesmo momento em que, pela primeira vez em 17 anos, mais da metade da população brasileira se encontra em situação de insegurança alimentar. 

Participaram da pesquisa pessoas de todas as regiões do País, com prevalência do Nordeste (53,6%) e Sudeste (34,7%). A maioria de mulheres (58%) e pessoas brancas (56,7%), cis gênero (93,6%), com renda variável e concentração na faixa de até R$ 2 mil /mês (54,5%) e idade média de 30 anos. Realizado entre os dias 25 de abril e 18 de maio de 2020, o levantamento é do tipo transversal, por amostragem de conveniência. 

As pessoas responderam a um questionário na plataforma Google Forms, disparado inicialmente pelo aplicativo de comunicação WhatsApp e também acessado por meio das redes sociais da Escola Livre de RD. As informações fornecidas refletem o comportamento das pessoas entrevistadas. Significa dizer que os dados consolidados não podem ser estendidos, na proporção, à população geral. A pesquisa foi composta por perguntas sobre dados sociodemográficos (sexo, identidade de gênero, idade, região de origem, renda, cor/raça); isolamento social (tempo em quarentena, autopercepção de adesão ao isolamento social); alteração de humor e frequência de uso de álcool e outras drogas.

 

Entre os principais achados, foi possível identificar que a pandemia do Covid-19 afetou de forma diferente os diferentes estratos sociais, financeira e psicologicamente. “Problemas antigos relacionados à desigualdade social se tornaram mais visíveis e determinantes para um efeito mais devastador das consequências da pandemia”, destaca o relatório. A quase totalidade das pessoas entrevistadas (95% da amostra) informou alterações negativas de humor. A maioria também contou ter sentido mais raiva (82%) e menos vigor (53%) durante a vivência do isolamento social. 

O estudo identificou também que NÃO foi observado aumento expressivo do uso de drogas durante a quarentena da primeira onda da pandemia, diferentemente do que chegou a ser alertado como forma de fuga por alguns setores. Pessoas com consumo menos frequente reduziram ou deixaram de fazer uso. “Entretanto, as pessoas com consumos mais frequentes aumentaram, de uma forma geral, seus padrões, diminuindo os intervalos entre os usos, fator que merece importância epidemiológica”, ressalta o trabalho.

 

Impacto da Pandemia
Dados mostraram queda após o início da quarentena. Antes das medidas sanitárias de isolamento social, 16,2% informaram renda de até R$ 600. Esse índice quase dobrou, saltando para 30,2% após as restrições. Observou-se, ainda, uma retração de 4 a 5 pontos percentuais nas outras faixas: de R$ 601 até R$ 2 mil; de R$ 2.001 a R$ 5 mil; e maior do que R$ 5 mil.      

A pesquisa mapeou também desigualdade entre rendas quando comparadas à raça/cor e a identidade de gênero das pessoas. “A desigualdade entre as rendas de acordo com raça/cor foi observada tanto antes quanto depois da (primeira onda da) pandemia (...) O impacto da redução de renda foi influenciado pela identidade de gênero (cis gênero e pessoas não cis”, informa um trecho do relatório do capítulo Participantes e Realidade Social. Pessoas negras e pardas somaram 38,8% dos questionários.

“O percentual de pessoas ‘cis’ com renda mensal de até R$ 600 aumentou de 16,9% para 29,6%, enquanto a parcela de pessoas ‘não cis’ mais que duplicou de 17,6% para 38,8%, indicando maior vulnerabilidade entre estas últimas”, detalhou o levantamento.

Padrões de uso
Quando analisado o uso de drogas ilícitas, as pessoas informaram significativa queda para o consumo de maconha/haxixe (-21%), cocaína (-55%) e psicodélicos (-66,5%) após a implantação das medidas de restrição. Também relataram maior dificuldade para adquirir as substâncias de interesse, “observada a qualidade reduzida dos produtos e elevação do preço após o isolamento social”.

O álcool foi a droga de maior preferência para 94% dos questionários respondidos. E a de uso mais frequente por pessoas brancas e de maior renda. “Bebidas alcoólicas apresentaram influências estatisticamente significativas apenas sobre a raiva, considerando toda a amostra. Os dados sobre o uso de álcool apontaram prejuízo do humor, no público investigado, verificável estatisticamente”, informou o relatório. 

Com exceção do álcool, não foram observadas diferenças de padrão de uso de substâncias de acordo com a cor/raça. As pessoas jovens foram as que apresentaram padrão de uso mais frequente de todas as drogas, exceto sedativos. Apenas a cocaína teve variação no padrão de uso de acordo com o tempo de isolamento social, tornando-se menos frequente entre as pessoas com maior tempo de quarentena.

Saúde mental
A análise das informações fornecidas apontaram para o comprometimento da saúde mental durante o isolamento social na pandemia, também mencionado e avaliado por trabalhos de outras entidades. “Uma parcela importante das pessoas usuárias de álcool e outras drogas lançou mão de consumos frequentes como estratégia de enfrentamento às mudanças de humor experimentadas no período pesquisado”, aponta a pesquisa, ressaltando que “a redução do uso de substâncias no período agudo da pandemia foi observada, contradizendo as previsões de aumento do consumo de álcool e drogas”.

Com 76 páginas, o relatório final da pesquisa concluiu que “os impactos da pandemia de Covid-19 sobre a saúde mental serão um desafio contemporâneo para a sociedade brasileira, e ações de redução de danos devem compor entre as estratégias para a recuperação dos efeitos desta grande tragédia social e sanitária, principalmente entre usuários com padrão de uso frequente de álcool, cigarros e sedativos”.

OUTROS DADOS

Álcool
Em geral, pessoas que bebiam com mais frequência antes da pandemia apresentaram raiva até 34% maior do que as abstêmias ou de uso menos cotidiano. Os padrões de consumo mais frequentes após a pandemia foram observados nas pessoas que informaram maior renda antes do isolamento social. Os resultados indicaram que a redução da ingestão de bebidas alcoólicas ficou entre 8% e 9%.

Tabaco/cigarros
Uso informado por das respostas. De forma geral, a pessoa fumante, antes e depois das medidas de isolamento, apresentou cerca de 10% de redução do vigor e 15% de aumento da raiva. Considerando a amostra total de 1.336 pessoas entrevistadas, o uso de cigarros foi menor entre as mulheres cis e maior entre as pessoas jovens (até 29 anos), de identidade não cis gênero, seguidas dos homens cis. 

Maconha/haxixe
Cerca de ¾ de todas as pessoas entrevistadas relatou uso da substância nos últimos 12 meses, fazendo da droga a segunda de maior preferência. Após o isolamento social, foi observada queda de 21% do consumo, principalmente entre aquelas de uso mais esporádico. Pessoas de uso mais cotidiano mantiveram o padrão, de forma geral. Entre todas as pessoas entrevistados, a maconha se mostrou mais procurada por homens cis gênero, jovens (até 29 anos), pessoas declaradas não brancas e preferida por pessoas de menor renda.

Cocaína
Informado por dos questionários respondidos, o uso da substância caiu 55% após as medidas de restrição sanitária. Em geral, os consumos mais frequentes foram observados em homens cis seguidos por pessoas não cis gênero, jovens (até 29 anos) e adultos maduros (30 a 59 anos), com renda até R$ 2 mil e menor tempo de isolamento social.

Psicodélicos
Metade das pessoas entrevistadas relatou consumo e as mais jovens apresentaram maior propensão a usos frequentes. Após as medidas de isolamento social, o uso da substância influenciou na redução do humor negativo em até 13% e aumento do vigor (8 a 23%, com mais vigor entre usuários mais assídua(o)s, segundo as respostas fornecidas.

Sedativos
O uso foi informado por cerca de 1/5 das pessoas entrevistadas e não foi observada a redução após a implementação das medidas de isolamento social. O uso de sedativos interferiu de maneira importante e prejudicial sobre o humor das pessoas. O consumo, principalmente de forma frequente, mostrou relação com humor negativo 13% a 24% maior do que em pessoas sem uso ou com baixo uso. Foi mapeado também menor vigor (15% a 29%) e mais raiva (26% a 31%), antes e depois das medidas de isolamento social.

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