A feminista defende a regulamentação do aborto porque acredita que é uma questão de saúde pública e de direito da mulher. Uma jovem de família rica, que fez intercâmbio no exterior, decidiu pela interrupção da gestação. Por pressão dos pais. Filhos, sim. Mas não agora! Com sentimento de desobediência a Deus, uma irmã da igreja, que é também preta, precisou recorrer ao aborto. Uma servidora pública com nenhum dia de falta em anos de carreira tirou uns dias de licença para se submeter ao procedimento. Aquele político que diz defender a família tem uma filha que engravidou, foi assistida por um médico indicado a ele por um colega de plenário. O cidadão de bem que foi às ruas protestar contra a corrupção era casado e tinha uma amante, que também recorreu ao aborto.
Essa abertura de texto é uma provocação para delinear a realidade social em que vivem: as mulheres e pessoas que gestam - por diversas questões, muitas delas estruturais - precisam recorrer à interrupção de uma gestação indesejada ou não programada. Algumas conseguem acesso ao procedimento de forma assistida, enquanto uma maioria precisa recorrer a métodos inseguros, com graves riscos à saúde. No Brasil, aborto é crime previsto no Código Penal, exceto nos casos de gravidez resultante de estupro, risco à vida da mulher e feto anencefálico. Mesmo assim, o fato de ser proibido por lei não fez com que deixasse de existir.
A pergunta, então, que precisa ser feita e respondida é:
Você é a favor de que uma mulher preta ou pobre seja presa porque precisou recorrer ao aborto?
Mesmo sendo ilegal e criminalizado, com pena de 03 anos de reclusão, é uma realidade. O Estado é laico e garantidor de direitos, inclusive o direito à vida. No caso, o direito das mulheres à vida. O mesmo Estado que garante o direito das pessoas à liberdade de crença e religião e de, no seio da sua família e comunidade, praticar os princípios e valores que desejar.
Hoje é o Dia Latino-Americano e Caribenho pela Descriminalização do Aborto. A data foi instituída na Argentina, na década de 1990, no 5° Encontro Feminista Latino-Americano e Caribenho. Marca a luta das mulheres pelo direito aos seus corpos, pela saúde sexual e reprodutiva e de escolha sobre a interrupção da gravidez.
A Escola Livre de Redução de Danos está somada a esta luta!